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quinta-feira, 29 de março de 2012

A fronteira

Uma das "ferramentas" de trabalho de um profissional de polícia é o bom senso, este adquire-se pela capacidade de avaliação, pela capacidade de compreensão e no fundo pela análise e sensibilidade social.
Há quem julgue que tal não é necessário, porque numa instituição hierarquizada, com responsabilidades "assumidas" pelo topo, as bases deverão apenas seguir as orientações e determinações oriundas de quem co(manda).
Aqueles que reduzem o seu exercício a uma mera mecanização e instrumentalização ao serviço de ordens, reduzem-se desde logo à sua condição de ser mecanizado, limitado e sem capacidade e sensibilidade de avaliação. E assim sendo, tal forma de pensar/agir, demonstra bem a sua incapacidade de questionar, de contestar, de fazer valer os seus direitos também no que toca à sua condição profissional.
Os polícias no exercício da sua função estão obviamente numa fronteira muito ténue, principalmente quando chamados a intervir em cenário de contestação social num quadro politico/social difícil, principalmente para aqueles que sobre(vivem) do rendimento do seu trabalho.
Este conflito criado pelo facto de serem também parte dos penalizados por medidas políticas, mas em simultâneo ser chamado a desempenhar a sua missão, muitas das vezes como meio atenuador de contestação que ultrapasse a normalidade, é um conflito muito difícil de gerir, para aqueles que exercitam a mente.
Para esses e só para esses apela-se ao desempenho nobre da sua missão, mas associado a uma sensibilidade de avaliação, no respeito das liberdades e garantias, na defesa da paz e tranquilidades públicas e na defesa de um estado de direito, partindo de um pressuposto que será a definição de estado de direito, pois por vezes há opções governativas que mais parecem querer anular o estado de direito, principalmente na sua componente social e democrática.
O estado de direito democrático é um estado assente em leis com aplicação sem distinção pela condição económica ou social dos cidadãos e a democracia não se reduz há possibilidade de eleger e ter liberdade para gritar nas ruas, a democracia alarga-se também há distribuição da riqueza, à garantia de segurança social dos cidadãos, ao acesso a cuidados de saúde, entre outros.
Os polícias podem desempenhar e bem a sua difícil e nobre tarefa, mas podem também analisar e garantir a defesa dos cidadãos em todos os sentidos, aliás os polícias fazem-no diariamente no serviço que desenvolvem junto das populações...

sexta-feira, 23 de março de 2012

Permitam-me, mas é erro de análise...

A forma mais correta de avaliar algo, é observar, deixar passar algum tempo, reflectir, analisar conhecer e concluir. Concluir pela via racional e sem deturpações puxadas ao sentimento, à familiaridade ou pensamento ideológico.
Nas últimas acções de rua por ocasião da greve geral da CGTP verificaram-se alguns conflitos entre manifestantes e a polícia.
Poderemos tecer comentários em abono de uns e desabono de outros, contudo, creio que será a pior forma de comentar estes episódios, desde logo, porque parte-se de um pressuposto errado, ou seja, que se trata de adversários e que estará algo em conflito entre essas partes, o que não é verdade.
Nestas acções todos sabemos que há infiltrados, mas não só na parte policial, todos sabemos que por vezes há insensibilidade e deturpações, mas de todos os lados…
No entanto e após todas as críticas, comentários e análises, secundariza-se aquilo que no meu entender é o mais importante, ou seja, a origem destas alterações sociais e agudização da contestação.
Reduzir a greve e as acções de rua apenas à atuação policial, ao jornalista que foi agredido, ao pontapé e às cadeiras das esplanadas, está-se a “proteger” quem criou o problema, os autores de políticas erradas…