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quinta-feira, 7 de abril de 2011

FMI “o bom amigo”

A história;

Portugal viveu uma ditadura durante décadas, saindo dessa ditadura em 1974.
Após a revolução, tempos quentes surgiram, por via de duas visões diferentes para a sociedade, vincou a linha Soarista com apoios de direita (à altura mais centro, fruto do contexto político e social)...
Depois começaram os governos PS/PSD/CDS, com a implementação de políticas que entenderam ser as melhores, com uma visão assente nas privatizações, com pretensões de tirar alguma carga dos valores de Abril à Constituição, preparando o país para aderir à CEE.
Depois veio a CEE e muitos milhões... Era governo o PSD (actual Presidente da República), e os agricultores, os pescadores, a grande produção nacional ficou limitada às directivas europeias, os fundos foram aplicados indevidamente, não se formou, não se educou, não se aplicou na produção, aplicou-se na iniciativa privada, nas quintas alentejanas de fim-de-semana, etc.
Portugal foi avançando assente no sector terciário (serviços), secundarizando sectores de produção (ora com potenciais enormes, como azeite, tomate, cortiça, pesca, metalurgia, sectores energéticos como o vento, o sol, etc.).
A Europa seguia para um futuro, sempre conduzida pelo directório Alemanha/França, aplicando um conjunto de medidas que salvaguardasse o interesse desses países, e depois o interesse desses países, ainda é assim...
Depois surgiram os governos PS, com interregnos PSD/CDS, e continua-se a privatizar, principalmente sectores estratégicos, como a EDP, CIMPOR, PT, etc...
Dá-se origem a empresas municipais, a falta de fiscalização dos dinheiros públicos continua, a falta de formação profissional dos portugueses é evidente, os valores da "outra senhora" ainda se reflectem na cabeça de muitos empresários, responsáveis e gestores, atribui-se subsídios sem critérios e sem fiscalização, apenas pela caça ao voto (não sou contra os subsídios), o sector bancário tem aquilo que quer, um povo fraco e com desejo de gastar, terreno fértil para aplicar a sua arte, presenteado pela bondade política na aplicação de impostos...as famílias ricas do país (Mello, Espírito Santo, Azevedo, Amorim) aproveitam o terreno e reorganizam-se, os governos, ajudam entregando sectores estratégicos a esses senhores, sob a capa de que a concorrência leva à descida de preços, ora nem mais, nada disso se passa...
O povo vive alegre com futebol, telenovelas, programas de entretenimento, de shoppings, de crédito fácil, de pouco estudo, de facilitismo, do “deixa andar”, do “gasta mais do que o que tem”, tudo permitido e impulsionado pelos governos (relembro PS/PSD/CDS), por estratégia partidária, eleitoral e politiqueira...

Construiu-se um país com fracos recursos humanos (não refiro habilitações, refiro qualidade), com muitas estradas, estádios de futebol, shoopings, diversão, festas de verão, etc., etc., etc...
Construiu-se um país de fraca aposta cultural, de fraca consciência política, de viver do emprego, não do trabalho, país com fraca qualidade política...

Chegam os anos de 2000, começa o problema, começa a faltar, começa a competição com novos mercados, começa a factura de uma União Europeia que aceitamos, chega a factura de um modelo interno que escolhemos (traduzido pela alternância partidária de sempre), chega a factura do mundo que optamos, tudo começa a tremer.
O Mundo e a Europa não ajudam, pois o modelo de funcionamento é o mesmo...modelo capitalista, assente no sector especulativo e financeiro, onde as “ondas” das agências financeiras e o interesse dos grupos económicos superentendem a política e os povos.

Políticos da “alternância” culpam-se mutuamente (relembro que só PS/PSD/CDS governaram), grande banca, sector especulativo e financeiro, culpam o peso de estado, "cabides com subsídio e saúde" dizem, agora não quero trabalhar, confirma-se, estudantes com habilitações mas não habilitados, começa o castigo, funcionários públicos e classe média pagam uma crise a que não deu origem.

O aperto aos funcionários públicos já não é suficiente, vai-se cortar onde? Aos desempregados, nos subsídios sociais, nas pensões…
Na banca e sector financeiro, não se mexe...apesar da aplicação de mais um imposto, a taxa específica directa está bem abaixo da aplicada nos rendimentos de trabalho, porque será? Será porque representam os tais que comandam a política? As medidas de austeridade implementadas serão sempre apoiadas pelas instâncias europeias e mundiais (BCE, FMI, etc.), a designada concertação…

Começa o desastre, começa o descartar de responsabilidades, começa o conflito político, começa a crítica generalizada e absurda aos políticos, colocando todos no mesmo saco, (reforço que nesta história os governos foram sempre (PS/PSD/CDS)), começa o desnorte e a politiquice, começa o sector especulativo, a banca e os grandes empresários a movimentar-se junto dos seus representantes, pressionando para não se mexer no modelo, mas para aderirem ao crédito externo.
Já tudo vale, é falta de credibilidade, é mentira política do governo, mas do maior partido da oposição, é o “líder das feiras”, aos saltos dizendo “estou aqui”, “estou aqui”, disponível para o poder…
Mesmo apesar das medidas aos de sempre, não dá, temos de ir ao FMI, ou por via directa, ou através da Europa, e como entra o FMI?

O FMI foi criado com um objectivo, mas primeiro convém saber porquê o FMI ou a Europa para resolver esta crise.

Questões;

Conhecem o funcionamento, objectivo e “bondade do FMI” ou do Fundo de estabilização europeu?

Por que razão quando se chega a uma situação limite, se diz, “eles são todos iguais”, serão, serão todos responsáveis?

Porque não se aposta noutra saída para a crise, à semelhança da Islândia? Porque não se fala neste caso? Porque nesta Europa e país, tão proteccionistas do sector bancário, não interessa dar notícias de quem lhes bateu o pé e não alinhou nas imposições usurárias que o FMI lhe impôs para a ajudar.
Em 2007 a Islândia entrou na bancarrota por causa do seu endividamento excessivo e pela falência do seu maior banco que, como todos os outros, exactamente os mesmo motivos que tombaram com a Grécia, a Irlanda e Portugal.
Após a tão evidente “ajuda” do FMI, surge uma ideia base muito simples: os custos das falências bancárias não poderiam ser pagos pelos cidadãos, mas sim pelos accionistas dos bancos e seus credores. E todos aqueles que assumiram investimentos financeiros de risco, deviam agora aguentar com os seus próprios prejuízos. Simples não é?

Porque quase não se falou e debateu a proposta apresentada por um dos partidos minoritários do nosso espectro político, com a utilização de obrigações da Caixa Geral de Depósitos e do Banco de Portugal, para resolução do problema, ou até com um pedido de empréstimo por parte do governo português, ao BCE, à semelhança do que a banca faz?

Outra questão, porque se reduz as alternativas de estrutura política, económica e social com as que sempre tivemos?

Reflexão sobre a ajuda externa;

A crise e divida foram criadas pelos sucessivos governos (irresponsabilidade) e pelos sectores bancários e financeiros (interno e externos) (ganância), não por culpa das populações ou dos funcionários públicos.
As agências financeiras internacionais, estão ao serviço de um modelo mundial com interesses bem definidos e exercem pressão (especulação) para os países seguirem um caminho e não outro.

É preciso conhecer os reflexos da ajuda externa nos anos 80 em Portugal no bolso dos trabalhadores e funcionários públicos (em 11 meses de trabalho, quase 3 meses de rendimento foram para pagar a ajuda externa …), perda do 13.º mês, etc.

É preciso confirmar o calendário e agenda alemã, com a implementação das ajudas, serão mera coincidência?

Esta crise não transmite a verdade, o que está em causa não é o financiamento do país, mas sim da banca, já questionaram a defesa e ênfase, à necessidade de ajuda externa, dado por parte banca, pelas agências financeiras, pelos grandes empresários, pela alternância (PS/PSD), pelos comentadores do sistema, pelos grandes sectores empresariais?

A ajuda externa assenta num empréstimo, um empréstimo assenta em garantias e juros, quais serão as garantias? As garantias serão os “PEC”, sempre apontados aos funcionários públicos, agora também aos sectores mais frágeis da sociedade, dada a sua incapacidade reivindicativa.

Conhecem o que se passou na Irlanda, Grécia, apesar da diferença destes países, viram quais os sectores mais penalizados?

Sabem quais as garantias exigidas pela ajuda externa, para poder canalizar a verba? Ao nível de alterações que afectam subsídios de férias, subsídios sociais, redução de salários, inclusive salário mínimo, congelamento de progressões e concursos, acham que já não foram “os de sempre” penalizados demais, com as políticas internas? Com o PEC 1, 2 e 3? Estará este aperto estendido a todos, à proporção de todos?

Ou seja, o sistema financeiro apoderou-se do poder político, surgiu uma crise provocada por esse modelo, crise que deu origem a muitas fortunas e reforço de outras, a especulação traduz-se em economia virtual, o sistema chega ao extremo, tudo descamba, aí, os estados injectam capital para manter a situação e para não permitir alastramento ou ruptura total, mas permanecendo o modelo que deu origem ao problema.
Esta situação para um país como Portugal, sem estrutura e estofo, porque não teve políticos e políticas capazes, é demais para a dimensão do problema.
Aqueles que em nada contribuíram para a crise, serão os “fiadores” de um empréstimo que não pediram, e hipotecam os seus subsídios de férias ou outros, para manter o sistema perfeito, para aqueles que os empurraram para esta situação, este sim é o retrato que ninguém assume, mas é a realidade.

Alternativas;

O país precisa de produzir (Portugal importa 80 % daquilo que come, num país com recursos geográficos, climáticos favoráveis), para criar riqueza, para manter forte a sua indústria naval, pesqueira, agrícola, colmatando a destruição destes sectores praticada pelo moralista Cavaco que agora se sente imune à sua prática governativa.

Tem de surgir uma ruptura, com o modelo em vigor, uma nova visão da sociedade, uma nova consciência política e social.

A política serve para resolver a vida das pessoas, a economia deverá servir a política, os povos têm de compreender e estar esclarecidos dos interesses instalados, têm de ter noção daquilo que são, de quem os defende, daquilo que têm de fazer para defender os seus interesses, há a necessidade de consciencialização social.

Há que frontalmente denunciar esta Europa, há que renegociar a longo prazo, enquanto se investe na produção nacional e na exportação.

Há que apostar em alternativas profundas, há que questionar o futuro, há que colocar a política acima da economia.

Há acima de tudo a necessidade urgente de mudança…nas mentalidades…

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